observacoes:
1 - peco desculpas pelos problemas de pontuacao que se devem aa configuracao dos teclados ingleses.
2 - este nao é nenhum artigo academico, trata-se apenas uma reflexao durante minha insonia sobre o que eu tenho lido essa semana nos jornais (Times e BBC).
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Com o novo ataque do PKK ao território turco na fronteira com o Iraque, parece ter chegado ao fim a chamada "estabilidade" do território semi-autonomo curdo, no norte do Iraque.
O ataque de ontem se inseriu na escalada da tensao que p^ode ser acompanhada nos últimos 10 dias através dos jornais. Em resumo:
- dia 11/10: A Turquia convoca seu embaixador em Washington devido aa proposta do parlamento americano de rotular de genocídio o massacre de 1.5 milhoes de armenios em 1915 pelo Império Otomano. A Turquia ameaca abertamente realizar acoes no norte do iraque para deter o PKK, o que desestabilizaria a regiao, assim como rever seu relacionamento com os EUA e o uso de suas bases para realizar a logística da guerra no Iraque (70% de todo material usado no Iraque passa pela Turquia). - http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/asia/article2636523.ece
- dia 17/10: o parlamento turco aprova com esmagadora maioria mocao autorizando o governo a realizar operacoes militares além da fronteira iraquiana visando eliminar o PKK. - http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/iraq/article2681579.ece
- dia 21/10: o PKK ataca um comboio turco na fronteira iraquiana. A Turquia promete retaliar "a qualquer preco".
A situacao hoje é complexa, mesmo se até aqui "previsível". Plagiando Nye, podemos dizer que estamos assistindo a um jogo de xadrez jogado em tres tabuleiros superpostos:
Em um primeiro nível vemos a confrontacao "política e cultural" de diferentes interesses, como os lobbys armenio e turco nos EUA e na UE, mas onde também estao(estavam) jogando os dois principais partidos americanos. Nesse tabuleiro também se inserem, principalmente aliás, as contradicoes internas da Turquia e a grande pressao interna para a manutencao do status quo, seja em relacao aa negacao do massacre de 1915, seja em relacao aa real insercao da minoria curda, exigida pela UE.
Em um segundo nível temos a questao militar propriamente dita, onde vemos uma Turquia que já realizou anteriormente 24 operacoes, em vao, além da fronteira iraquiana para tentar deter o PKK e que pede continuamente ajuda aos EUA para resolver essa situacao. A exigencia turca de que o próprio Iraque e o território semi-autónomo curdo acabem com o PKK nao é factível, pois ambos carecem de forca para tal. Dessa forma, a Turquia passa a pressionar os EUA e UK para que se abra um novo front, novamente nas montanhas e dessa vez na única regiao relativamente estável do Iraque, para impedir os ataques do PKK aa Turquia. Para tal, a Turquia usa sua grande moeda de troca, que é a continuidade da utilizacao de sua infraestrutura pelos EUA.
No terceiro nível vemos, de um lado, o nervosismo do mercado financeiro com o possível aumento do barril de petróleo devido a retomada da guerra no norte do Iraque e, de outro lado, os "incalculáveis" custos que seriam gerados por um rompimento com a Turquia.
Em resumo: a situacao é tensa e, aparentemente, vai custar muitas vidas de ambos os lados. Alguns analistas ingleses se apressaram em dizer que uma invasao seria um desastre e que a solucao seria diplomática, pressionando as autoridades do território semi-autonomo curdo para reprimir os ataques. Infelizmente, esse nao parece ser o fim mais provável da questao (basta ler a entrevista com o primeiro ministro turco - http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article2707933.ece) e, novamente, muitas vidas estao em jogo.
Essa situacao traz novamente aa tona as contradicoes internas turcas e regionais que precisam ser discutidas e superadas para garantir a possibilidade de paz e estabilidade, notadamente a questao do genocidio de 1915 (ou existiu ou nao existiu, nao é uma questao filosófica) e a questao curda, esta última envolvendo seus países vizinhos. Em ambas as situacoes a atuacao e intermediacao da ONU e, talvez principalmente, das potencias aliadas aa Turquia parecem ser fundamentais.
Para entender a situacao e a regiao vale lembrar uma citacao que consta em um excelente artigo que saiu no L'Express lá no comeco da invasao ao Iraque: «L'Irak? Une folie de Churchill, qui prétendait réunir deux puits de pétrole que tout séparait - Kirkouk et Mossoul - en soudant trois peuples que tout éloigne, les Kurdes, les sunnites et les chiites.» http://www.lexpress.fr/info/monde/dossier/irak/dossier.asp?ida=380017&p=5
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Aos demais autores do blog: como está sendo vista e analisada a situacao nos EUA, Alemanda e Brasil?
A todos: assistam ao filme Ararat http://en.wikipedia.org/wiki/Ararat_(film)
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
A previsível combustao de um barril de pólvora
Posted by
Bruno
at
05:50
Labels: Guerra e Paz, Oriente Médio
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Talvez certo e errado sejam conceitos mutantes... era certo comer os adversários e noutros lugares fazer deles seus escravos, casar virgem e tudo mais. Para o nosso padrão de hoje certamente PAZ é um conceito válido. A verdadeira paz é enxergar também o ponto de vista do outro, senão é ausência de guerra. Pessoalmente creio que quanto mais depressa se integrem os muçulmanos de um modo geral e quanto mais depressa os curdos tiverem um espaço p chamar de seu mais depressa ela terá condições de existir..
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